Mapas do Spirito Sancto: a cartografia como história e arte
Em 2011, o historiador capixaba Fabio Paiva Reis juntava uma série de mapas coloniais do Espírito Santo digitalizados, alguns deles raros ou pouco acessíveis, fruto do seu estudo de mestrado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).“Não via sentido em guardar documentos só comigo, pensei em compartilhar para que quem viesse estudar o tema encontrasse de forma mais fácil, sem ter que recorrer a longas pesquisas na internet ou tendo que ir à Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro ou até a outros países”, explica.
Foi daí que surgiu o projeto Spirito Sancto, quando já cursava seu doutorado em Portugal. Hoje o projeto reúne mais de 500 documentos históricos textuais e cerca de 50 mapas cartográficos do período colonial, muitos deles inéditos mesmo para historiadores.
O projeto foi crescendo ao ser contemplado com um edital de Educação Patrimonial em 2016. Agora se prepara para um novo passo: uma exposição na sede Arquivo Público do Estado, localizado no Centro de Vitória. A nova etapa foi possível graças a uma ação de financiamento coletivo pela internet, recebendo microdoações de 57 pessoas.
Com o nome de “Mapas do Espírito Santo Colonial”, a exposição que será inaugurada nessa terça-feira (3), às 18h30, apresenta 23 placas expositivas contendo 35 mapas e informações explicativas, além da indicação da localização de cada local retratado no atual território do
Espírito Santo.
Os mapas expostos foram feitos por cartógrafos portugueses, italianos e holandeses. O mais antigo data de 1590 e o mais recente de 1675. “São bem antigos, alguns realmente raros e de difícil acesso. A proposta da exposição, além de levar documentos históricos para a população em geral, é chamar a atenção para o valor dessa história, a importância de destacar a cultura e a história do Espírito Santo”, afirma Fabio, destacando que a maioria dos livros didáticos são feitos por historiadores de outros estados, com seus bairrismos ou desconsideração sobre a relevância de nosso Estado, o que acaba se refletindo numa preparação por vezes insuficiente dos professores locais para ensinar a história capixaba para os alunos.
O desafio de tornar fontes históricas tão antigas acessíveis para pessoas que não são do ramo, é muito grande, segundo o historiador. “O mapa, por ser visual, é mais fácil de ser assimilado”, conta ele, que além do site, também criou um canal no YouTube para mostrar, explicar e comentar documentos do projeto.
Um aspecto interessante levantado pelo historiador é o caráter artístico presente nos mapas, que poderá ser observado. “São literalmente obras de arte. Os cartógrafos eram artistas, pois colhiam informações e as desenhavam pintavam, assim como um pintor de quadros. Alguns mapas eram tão importantes que tinham detalhes em ouro. O cuidado era muito grande para fazer e preservar os mapas, que tinham grande valor”, explica Fabio. “Na época a cartografia não era padronizada como atualmente, como, por exemplo, hoje vemos azul e sabemos que é o mar. Nessa época cada cartógrafo fazia de um jeito, as nações tinham estilos diferentes, havia espaço para a criatividade”, conta.
Quem comparecer nessa terça-feira na inauguração da exposição no Arquivo Público terá a oportunidade de dialogar diretamente com Fabio Paiva Reis, que realizará um bate-papo com o público visitante. Para conhecer mais do projeto acesse o site Spirito Sancto.
SERVIÇO
Inauguração da exposição Mapas do Espírito Santo Colonial Quando: Terça-feira, 3 de abril, 18h30 Onde: Arquivo Público do Espírito Santo - Rua Sete de Setembro, 414, Centro - Vitória Visitação: Segunda a sexta-feira, das 10h às 17:30 Entrada gratuita
<acesse aqui>* Conteúdo original no site Século Diário: