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Agtechs absorvem US$ 40 bi nos últimos dois anos

No Brasil, das 12.967 startups existem, 326 são relacionadas ao agronegócios.

(Foto: Getty Images)

As agtechs, como são chamadas as startups do agro, deram uma sacudida nos negócios no campo. Nos últimos anos, essas empresas de inovação mudaram substancialmente o perfil do setor, estimulando a adoção de tecnologias e o nascimento de um mercado bilionário. De acordo com o AgFunder Agri-FoodTech Investing Report, nos dois últimos anos foram investidos mais de US$ 40 bilhões em agtechs em todo o mundo.

No Brasil, ao lado do segmento de educação, as agtechs são as startups que mais crescem. Das 12.967 brasileiras, 326 são do agro. O número representa 3,18% do total, de acordo com a Associação Brasileira de Startups.

Em meio à intensa revolução tecnológica vivenciada pela agricultura digital, somente neste ano a associação já identificou o surgimento de 12 novos empreendimentos. O número segue a média registrada anualmente desde 2015. O crescimento se justifica principalmente devido à necessidade de gerenciamento do risco inerente às atividades agropecuárias. As novas tecnologias e serviços procuram minimizá-los e as startups entram como facilitadoras da gestão nas fazendas.

Segundo o editor executivo da associação, José Muritiba, a diversidade do mercado brasileiro favorece a inovação, um papel que as startups cumprem muito bem. “A necessidade de inovação é transversal, vai de tecnologias de fertilização e mapeamento de cadeias produtivas à logística final do produto acabado.”

Segundo Muritiba, um dos fatores para o crescimento é a proximidade desse setor com a academia. “A universidade forma talentos e disponibiliza ciência e tecnologia para o avanço de soluções que auxiliam os produtores na tomada de decisão”, diz ele.

A diversidade de inovações criadas por jovens estudantes e por gigantes do setor é uma das principais características do universo das agtechs. Muitas delas nasceram em universidades ou em desafios tecnológicos e chamaram a atenção dos grandes players, que efetuam negócios milionários. Exemplo disso foi a compra da norte-americana Granular pela Corteva em 2017, por US$ 300 milhões.

(Foto: Getty Images)

Com o avanço das agtechs, outra modalidade de negócio que tende a crescer é a de fundos de investimento para aporte de recursos nas novas empresas. O AgVentures, fundo da SP Ventures 100% focado no mercado agro, já injetou mais de R$ 300 milhões em agtechs – tanto na compra de participações minoritárias como no apoio ao crescimento de empresas, explica o CEO do fundo, Francisco Jardim. “Acreditamos que investir em agtechs é uma oportunidade tão promissora quanto a de colocar dinheiro em fintechs. Apesar de ser mais conservador, o setor agrário tem um grande potencial de crescimento com a adoção de novas tecnologias”, afirma Jardim.

O próximo passo do AgVentures é o investimento em fintechs de serviços financeiros de apoio à agropecuária. Jardim elenca três fatores convergentes: juros historicamente baixos, transformação tecnológica no campo que permite a precificação da incerteza da atividade e uma agressiva onda de desregulamentação pilotada pelo Banco Central. “As fintechs para atender à necessidade financeira do produtor estão surgindo com o mesmo modelo de negócios que deu certo no Nubank e no Banco Inter”, observa.

Mas, enquanto as agtechs avançam sobre o campo, uma preocupação básica – a conexão com a internet – ainda patina. No contexto de uma agricultura cada vez mais dinâmica, que a cada safra bate recordes de produção para atender à crescente demanda mundial por alimento, é gritante a contradição de já contarmos com máquinas autônomas, drones e câmeras hiperespectrais no campo, mas não conseguirmos usar esses modernos equipamentos à plena carga por falta de uma internet segura.

Para Alfredo Miguel Neto, diretor de assuntos corporativos da John Deere América Latina, a solução para aumentar a produção e reduzir custos, garantindo mais competitividade ao produtor, é simplesmente esta: conectar o campo. “As máquinas que já estão no campo poderiam fazer muito mais do que fazem hoje.” Com internet, o compartilhamento de dados, muitas vezes feito apenas quando a máquina se conecta a um servidor, passaria a ser instantâneo, o que aceleraria os processos, evitaria perdas e resolveria problemas com mais eficiência.

Uma empresa que tem aproveitado a deficiência de conectividade no campo e feito muito negócio é a Solinftec. A companhia tem oferecido soluções de monitoramento on-line nas atividades agrícolas mesmo em regiões rurais onde não há cobertura de internet.

Ao lado de empresas como AGCO, Climate, CNH Industrial, Jacto, Nokia, TIM e Trimble, a empresa faz parte do ConectarAgro, consórcio formado para levar conexão aberta e acessível ao campo. No ano passado, a iniciativa integrou 5,1 milhões de hectares no país à banda larga 4G.

Em 2019, a empresa foi a primeira brasileira vencedora do AgFunder na categoria startup internacional mais inovadora em farm tech. O prêmio a credenciou para captar investimentos por meio de Certificados de Recebíveis do Agronegócio, modalidade de financiamento usada pela primeira vez no Brasil. A operação, da ordem de R$ 80 milhões, foi sacramentada no segundo semestre do ano passado e mostra que este pode ser um novo agronegócio promissor.

Mapa das agtechs

Estudo lista as startups de tecnologia que desenvolvem atividades relacionadas à cadeia agroalimentar.

Elaborado em conjunto por SP Ventures, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Homo Ludens Research and Consulting, o estudo mostra que as agtechs estão distribuídas principalmente entre as cidades de São Paulo, Piracicaba, Campinas, Ribeirão Preto, São Carlos e São José dos Campos (SP); Curitiba e Londrina (PR); Rio de Janeiro (RJ); Porto Alegre (RS); Belo Horizonte, Viçosa e Uberlândia (MG); Goiânia (GO); Campo Grande (MS); Brasília (DF); e Florianópolis e Chapecó (SC), onde estão sediados 58% do total.

ÁREAS DE ATUAÇÃO

As chamadas foodtechs são a maioria entre as startups do ligadas à cadeia agroalimentar.

Antes da fazenda

Envolve uma série de empresas dos segmentos de análise laboratorial, controle biológico, economia compartilhada, nutrição animal e vegetal, sementes e mudas, melhoramento genético, serviço financeiro, entre outras.

41 de Fertilizantes, inoculantes e nutrientes 32 de Controle biológico 20 de Análise laboratorial 10 de Economia compartilhada 40 de Genômica e biotecnologia 20 de Nutrição e saúde animal 9 de Sementes e mudas 24 de Serviços financeiros TOTAL de 196 startups

Dentro da fazenda

Engloba fornecedores de tecnologias para equipamentos agrícolas, monitoramento do clima, para melhor eficiência no uso de adubo, sementes e pesticidas, sistemas de irrigação, sensoriamento remoto, e técnicas de gestão da propriedade.

34 de Agropecuária de precisão 7 de Aquicultura 18 de Conteúdo, educação e rede social 8 de Diagnóstico de imagem 21 de Gestão de resíduos e água 20 de Internet das coisas 34 de Máquinas e equipamentos 21 de Meteorologia e irrigação 19 de Monitoramento 29 de Sensoriamento remoto 122 de Sist. de gestão agropecuária 21 de Telemetria e automação 43 de VANT TOTAL de 397 startups

Depois da fazenda No grupo estão os segmentos que atuam após a produção agropecuária e reúne startups especializadas em tecnologia para novos alimentos, agroprocessamento, plataformas, restaurantes e empórios on-line, que são categorizadas como foodtechs.

95 de Plataforma de negociação e marketplace de vendas 12 de Segurança alimentar e rastreabilidade 12 de Sistemas de embalagem, meio ambiente e reciclagem 24 de Restaurante on-line e kit de refeição 29 de Mercearia on-line 24 de Loja autônoma e gestão de varejo 8 de Indústria 4.0 13 de Fábrica de plantas e novas formas de plantio 26 de Consultoria/aceleração/associação 14 de Bioenergia e biodiversidade 29 de Armazenamento, infraestrutura e logística 246 de Alimentos inovadores e tendências alimentares TOTAL de 532 startups

Fonte: Empraba

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Por Miguel Neto

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