Brasileira desenvolve rede de satélites para fornecimento de imagens de alta resolução
A empresária baiana Aila Raquel Ribeiro, CEO e fundadora da startup Alya Space, desenvolve desde 2019 um projeto ambicioso de criação de uma constelação de satélites capaz de oferecer monitoramento e imagens de alta resolução para diversas finalidades econômicas e ambientais. Atualmente, Aila negocia com agências espaciais uma janela para o lançamento do primeiro satélite da série, em dezembro.
Por Ricardo Fan em 26/08/2024
(RFI) Aila não tem graduação em engenharia aeronáutica, tampouco em astronomia, matemática ou física. Mas como arquiteta e urbanista de formação, ela explica que a ideia de criar sua empresa surgiu quando precisou de imagens de alta precisão para um projeto no qual trabalhava e as fotografias disponíveis no mercado eram demasiado caras para serem compradas a partir do Brasil.
“Eu percebi que havia um gap muito grande sobre não termos satélites brasileiros para fazermos imagens brasileiras e, portanto, ter aquele preço acessível a qualquer brasileiro“, conta.
A constelação criada pela Alya Space irá oferecer serviços de monitoramento de dados e imagens em qualquer condição climática, quase em tempo real, para aproveitamento em atividades agrícolas, de mineração, petróleo e gás, em projetos de proteção ambiental, acompanhamento de desastres, bem como na criação de cidades inteligentes do futuro.
O sistema imaginado pela empreendedora baiana combina sensoriamento remoto óptico com tecnologia de radar. Em três anos, a startup quer posicionar 216 satélites de baixa órbita e alta frequência, em duas fases – Alya 1 e Alya 2, de 108 satélites cada –, conectados a bases terrestres.
“Eu desenhei minha missão no Instituto de Estudos Avançados da Força Aérea. Junto com um físico do instituto, a gente viu quanto eu precisava em número de satélites para alcançar uma excelente cobertura para o propósito que eu queria.“
Há muitas áreas do Brasil que não são cobertas por satélites estrangeiros. “Muitas vezes, a gente ressente desses dados históricos para fazer comparações com os dados atuais“, constata a empresária. Por isso, ela planeja “uma cobertura fantástica do Brasil“, que pode ser útil tanto para atores do setor público quanto privado.
“Aquelas fotos que são adquiridas gratuitas têm 10 m de resolução por Pixel. A minha vai ter 50 cm de resolução por Pixel. Esse é o grande diferencial, porque a acurácia das imagens é muito grande. O outro diferencial é o preço“, enfatiza.
Fabricante em Hong Kong
“O parceiro atual que está desenvolvendo, integrando os meus satélites e me auxiliando em todo o passo a passo até chegar ao satélite em órbita é a Hong Kong Aerospace Technology Group“, detalha a empresária. Ela conta ter escolhido este fabricante asiático depois de ampla pesquisa no mercado internacional. O critério decisivo para a escolha, segundo Aila, foi a capacidade de produção massiva dos satélites.
“Eu tinha procurado por toda a Europa. Ainda não tinha encontrado uma empresa que pudesse fazer uma integração tão rápida e massiva e com alta qualidade [como] o que encontrei em Hong Kong. Hoje em dia, eles têm o ISO e uma automação fantástica, utilizam a inteligência artificial e muita robótica“, destaca.
“Nesse momento, acabamos de integrar o meu primeiro satélite. Ele já está pronto, já fizemos os testes de vibração, de radiação, de tudo o que a gente precisa fazer. Agora, a gente só está esperando a data do lançamento“, indica.
De acordo com Aila, o custo de um satélite da constelação está estimado atualmente em € 1,2 milhão (cerca de R$ 7,3 milhões), incluídas as despesas de licenciamento, lançamento, integração dos sensores e cada sensor.
Seleção de parceiros
Neste momento, a empresária faz contatos com lançadores internacionais. “Na França, conversei com a Agência Espacial Francesa para ver se consigo também lançar alguns dos nossos satélites pela Guiana Francesa, até esperar que no Brasil, em Alcântara, já esteja liberado“, relata.
“Gosto muito da Índia e também estou olhando para a Rússia“, assinala, acrescentando que, depois do Brasil, sente maior afinidade “com os indianos e os franceses“. A empresária não tem a menor dúvida de que a base de Alcântara, a 32 km de São Luís, no Maranhão, é a mais adequada para seu projeto.
“Alcântara tem uma excelente localização mundial. É um alcance muito rápido da órbita. A gente economiza combustível, chega na órbita muito rápido e na minha própria órbita“, resume.
Em 2023 a startup sul-coreana Innospace realizou o primeiro lançamento privado na base maranhense. O foguete Hanbit-TLV tinha a bordo uma carga brasileira do Sisnav, um sistema de navegação de foguetes desenvolvido pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço.
Primeiro lançamento
“Em dezembro, a gente vai ter nosso primeiro lançamento e no ano que vem os próximos satélites. A gente também vai construir no Brasil as estações terrestres que vão controlar, comandar, rastrear e receber os dados obtidos pelos nossos satélites. Estamos inclusive fazendo diversas parcerias com universidades“, detalha a empreendedora.
Questionada se tem concorrentes, ela cita algumas empresas no mercado internacional, mas nenhum concorrente direto no Brasil. “Que eu saiba, também vou ser a primeira mulher da América Latina CEO, fundadora e proprietária de um satélite a lançar (um equipamento) em órbita.”
Fonte: Defesanet
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